03 maio 2005

O camaleão

Segundo as tradições dos Pigmeus do Ituri, o deus supremo uraniano Arebati tem como atributos o trovão, o relâmpago e o camaleão. Este último, demiurgo, criador dos primeiros homens, é sagrado. Quando os Pigmeus o encontram no seu caminho, retiram-no com precaução por medo do trovão e do relâmpago. Ele sobe ao topo das maiores árvores; assim ele está mais próximo de Deus... Uma vez o camaleão ouviu no tronco duma árvore um murmúrio e um ruído. Rachou a árvore e uma grande onda saiu dela e espalhou-se sobre a Terra. Era a primeira água da Terra. Juntamente com a água saiu o primeiro casal humano (...)
Para os Dogons, o camaleão, que recebeu todas as cores, está ligado ao arco-íris, caminho entre o céu e a terra.
Para os Eldas do Alto Volta, é um símbolo de fecundidade e por esta razão as suas cinzas servem para a preparação de pós mágico-medicinais.
Segundo outras tradições, o camaleão seria um dos primeiros seres vivos: ele teria aparecido quando a Terra ainda não se tinha completamente separado das Águas primordiais, e, como teria aprendido a caminhar na lama, adquirira esta maneira de caminhar lenta e aparentemente preguiçosa que esteve na origem do aparecimento da Morte. Com efeito, o camaleão fora encarregado por Uculunculum (demiurgo e primeiro homem) de ir dizer que os homens não morrem. Mas ele demorou-se e, zangado, Unculunculum enviou o lagarto com a palavra morte e este chegou primeiro. A morte é, por isso, o efeito da preguiça e da leviendade do camaleão.
Mesmo em África, vemos, assim, o significado simbólico do camaleão passar da ordem cósmica à ordem ética e psicológica, o que indicaria um deslocamento dos centros de interesse e de observação. Do demiurgo que falha na sua obra, ao deixar que o homem se torne mortal, ao animal cujos traços físicos e hábitos servem de imagens para as lições do iniciador, encontra-se no camaleão uma impressionante bipolaridade, diurna e nocturna, que reúne os poderes e os fracassos.
in "Dicionário dos Símbolos"