Galeria de pessoas que indicam caminhos
Nestas deambulações “pelos caminhos de Portugal” (obrigado pela inspiração, Roberto Leal), preferindo sempre as estradas secundárias, acontece frequentemente ter de parar para pedir informações sobre o percurso a seguir. O acto de encostar o carro junto do transeunte mais à mão, descer a janela e perguntar “Ó amigo, desculpe lá, como é que eu vou...?”, afigura-se uma lotaria de personagens, um acto de fé na sorte que os deuses ditaram para aquele dia. Nunca me perco, é verdade, e levo na memória verdadeiras pérolas da geografia popular.
Alguns exemplos:
Queríamos encontrar umas ruínas romanas que uma placa lá mais atrás indicava como uma atracção turística do local. Chegamos à aldeia e não encontramos nada. Perguntamos a um velhote sentado nos degraus da sua casa. “Ruínas?!”, exclama com uma incontida raiva na voz “Aqui não há ruínas nenhumas, esta aldeia não é velha, ouviu? Aqui está tudo de pé e não há cá ruínas nenhumas...” Inversão de marcha.
“O senhor vai até ali abaixo, 'controla' a rotunda para a esquerda e, depois, quando chegar ao 'stander' da Renault...”
“Agora segue por aqui, depois desce, desce, desce, desce (repetição acompanhada de uma frenética mímica com as duas mãos), vira à esquerda (para exemplificar, o homem dá meia volta para a esquerda com o corpo e fica de costas para mim), continua a descer, a descer, a descer, a descer (assume uma posição egípcia e flecte os joelhos ritmadamente como se estivesse numa aula de aeróbica), contorna uma grande árvore (com as mãos no ar desenha energicamente os largos contornos circulares do tronco), ...” Acho que já deu para perceber a ideia.
Uma característica comum a grande parte destes anjos de beira de estrada é repetirem, em média duas a três vezes, exactamente pelas mesmas palavras, as indicações que deram logo no início. “Obrigado, obrigado, já percebi...”, digo já com o carro em ligeiro andamento. E ele a caminhar ao lado, repetindo.
Perguntar indicações a um casal, não raras vezes traz ao de cima tensões conjugais. Cada um sabe melhor do que o outro qual o melhor caminho a seguir, ainda que seja o único possível. Atropelam-se, falam um por cima do outro, mandam-se calar mutuamente e, nos piores casos, sobem gradualmente o tom de voz para se fazerem ouvir melhor até se instalar uma valente gritaria estereofónica. Quando sigo caminho, o retrovisor deixa-os ainda a esbracejar no meio da estrada.
O dono de uma pick-up. Estes são os mais perigosos, tal e qual como se estivéssemos perante um tuaregue terrorista no meio do Paris-Dakar. Para esta estirpe de indicadores não existe outro tipo de carro que não seja a pick-up que conduzem. Os atalhos pedregosos, a terra batida cheia de buracos, o caminho florestal ou os leitos de riachos são para eles autênticas auto-estradas. “Não há problema, o caminho 'tá bom e assim chega lá mais rápido...”
Alguns exemplos:
Queríamos encontrar umas ruínas romanas que uma placa lá mais atrás indicava como uma atracção turística do local. Chegamos à aldeia e não encontramos nada. Perguntamos a um velhote sentado nos degraus da sua casa. “Ruínas?!”, exclama com uma incontida raiva na voz “Aqui não há ruínas nenhumas, esta aldeia não é velha, ouviu? Aqui está tudo de pé e não há cá ruínas nenhumas...” Inversão de marcha.
“O senhor vai até ali abaixo, 'controla' a rotunda para a esquerda e, depois, quando chegar ao 'stander' da Renault...”
“Agora segue por aqui, depois desce, desce, desce, desce (repetição acompanhada de uma frenética mímica com as duas mãos), vira à esquerda (para exemplificar, o homem dá meia volta para a esquerda com o corpo e fica de costas para mim), continua a descer, a descer, a descer, a descer (assume uma posição egípcia e flecte os joelhos ritmadamente como se estivesse numa aula de aeróbica), contorna uma grande árvore (com as mãos no ar desenha energicamente os largos contornos circulares do tronco), ...” Acho que já deu para perceber a ideia.
Uma característica comum a grande parte destes anjos de beira de estrada é repetirem, em média duas a três vezes, exactamente pelas mesmas palavras, as indicações que deram logo no início. “Obrigado, obrigado, já percebi...”, digo já com o carro em ligeiro andamento. E ele a caminhar ao lado, repetindo.
Perguntar indicações a um casal, não raras vezes traz ao de cima tensões conjugais. Cada um sabe melhor do que o outro qual o melhor caminho a seguir, ainda que seja o único possível. Atropelam-se, falam um por cima do outro, mandam-se calar mutuamente e, nos piores casos, sobem gradualmente o tom de voz para se fazerem ouvir melhor até se instalar uma valente gritaria estereofónica. Quando sigo caminho, o retrovisor deixa-os ainda a esbracejar no meio da estrada.
O dono de uma pick-up. Estes são os mais perigosos, tal e qual como se estivéssemos perante um tuaregue terrorista no meio do Paris-Dakar. Para esta estirpe de indicadores não existe outro tipo de carro que não seja a pick-up que conduzem. Os atalhos pedregosos, a terra batida cheia de buracos, o caminho florestal ou os leitos de riachos são para eles autênticas auto-estradas. “Não há problema, o caminho 'tá bom e assim chega lá mais rápido...”
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