06 janeiro 2009
16 agosto 2005
terra queimada
António Ferreira do Amaral, presidente da Autoridade Nacional para os Incêndios Florestais, considera, no entanto, que os meios no terreno são suficientes, mas "nem sempre é possível apagar os incêndios com a rapidez necessária". Mas reconhece que a prevenção não foi a que devia ter sido. O cenário só será diferente quando "o poder autárquico se interessar, estiver sensibilizado e trabalhar para resolver esta questão".
in Diário de Notícias, 05 Agosto de 2005
É preciso ser de uma infinita amoralidade para dizer o que este grunho disse. Sacudir as brasas do cabelo para cima de terceiros, culpando o mais próximo para disfarçar a confrangedora inutilidade do cargo e da instituição que ocupa, é de uma hipocrisia atroz. Tão criminosos como quem ateia os fogos são também aqueles que tiveram a responsabilidade de evitar que o inferno de 2003 se repetisse e nada fizeram. Sentaram-se nas suas cadeiras almofadadas, em escritórios com ar condicionado e com cargos pomposos escritos na porta, brincaram aos mapas dando cores aos distritos, lançaram uma tímida campanha de publicidade e... nada mais.
"Os meios no terreno são suficientes"?!!? Vai para lá tu, ó palhaço, vai segurar numa mangueira de quintal enquanto uma frente de labaredas avança sobre a tua casa para ver se os meios são suficientes. Devias lá estar a ser lambido pelo fogo, a inalar o fumo e a veres tudo o que te sustenta reduzir-se a cinzas para sentires o que este país sofre com os incêndios. O QUE É ISTO? COMO SE PERMITE QUE ISTO ACONTEÇA ANO APÓS ANO? COMO É POSSÍVEL? COMO É QUE SE PERMITE QUE ESTE DESESPERO NOS CONSUMA?
E depois vêm-nos falar que uma das grandes opções estratégicas para Portugal é o turismo. Para ver o quê? Para usufruir do quê, de que paisagens, de que património natural. TGV? OTA? Puta que vos pariu, que eu não pago impostos para isso! Apelo à desobediência civil e ao incumprimento fiscal enquanto não nos apresentarem uma solução para a floresta, enquanto a vontade de preservar o território não for traduzida em medidas concretas. Quero a Floresta no Orçamento de Estado, JÁ! Recuso-me a viver e a contribuir para um deserto de terra queimada.
07 julho 2005
Baco aconselha... mais ou menos
Quinta do Cerrado
Dão Tinto Reserva 2001
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen
Aspecto: Límpido
Cor: Granada definida
Aroma: Intenso em frutos vermelhos de bago bem maduros, ameixa preta seca e baunilha
Sabor: Frutado, macio, bom equilíbrio, taninos/ácidos que lhe conferem longevidade
Processo de Vinificação: Desengace total, maceração pelicular prolongada e fermentação a 28º de temperatura
Estágio: Doze meses em barricas de carvalho Nacional e mais de três meses em garrafa
Longevidade do Vinho: 5/7 anos
Medalha de Prata: V Concurso Nacional do Clube do Vinho.
Recomendado: Classificação atribuída pelo Concurso “The International Wine and Spirit Competition 2004”
Nota do Palato:Ora aqui está um vinho que parecia oferecer maravilhas assim que a rolha saltou do gargalo. Fechado e tímido numa primeira apreciação, foi forçado a arejar com uma cuidadosa decantação. Ao longo de duas horas e meia lá se foi revelando placidamente mas sem nunca se expor na totalidade. Talvez seja um daqueles casos clássicos de abertura antes de tempo e que merece a espera máxima aconselhada pelo produtor: 7 anos, arriscando mesmo mais um ou dois para deixar o líquido amadurecer na garrafa (deitadinha, sossegadinha e escondidinha da luz). Os sabores e aromas estiveram lá, sempre em potência, mas ainda demasiado untuosos e excessivamente submergidos na doçura da fruta madura. Falta-lhe ainda levar alguma "porrada" do (elevado) teor alcoólico para as coisas ficarem no seu devido lugar. Se alguém seguir o meu conselho convidem-me para um jantar daqui a três ou quatro anos.
14 junho 2005
Galeria de pessoas que indicam caminhos
Nestas deambulações “pelos caminhos de Portugal” (obrigado pela inspiração, Roberto Leal), preferindo sempre as estradas secundárias, acontece frequentemente ter de parar para pedir informações sobre o percurso a seguir. O acto de encostar o carro junto do transeunte mais à mão, descer a janela e perguntar “Ó amigo, desculpe lá, como é que eu vou...?”, afigura-se uma lotaria de personagens, um acto de fé na sorte que os deuses ditaram para aquele dia. Nunca me perco, é verdade, e levo na memória verdadeiras pérolas da geografia popular.
Alguns exemplos:
Queríamos encontrar umas ruínas romanas que uma placa lá mais atrás indicava como uma atracção turística do local. Chegamos à aldeia e não encontramos nada. Perguntamos a um velhote sentado nos degraus da sua casa. “Ruínas?!”, exclama com uma incontida raiva na voz “Aqui não há ruínas nenhumas, esta aldeia não é velha, ouviu? Aqui está tudo de pé e não há cá ruínas nenhumas...” Inversão de marcha.
“O senhor vai até ali abaixo, 'controla' a rotunda para a esquerda e, depois, quando chegar ao 'stander' da Renault...”
“Agora segue por aqui, depois desce, desce, desce, desce (repetição acompanhada de uma frenética mímica com as duas mãos), vira à esquerda (para exemplificar, o homem dá meia volta para a esquerda com o corpo e fica de costas para mim), continua a descer, a descer, a descer, a descer (assume uma posição egípcia e flecte os joelhos ritmadamente como se estivesse numa aula de aeróbica), contorna uma grande árvore (com as mãos no ar desenha energicamente os largos contornos circulares do tronco), ...” Acho que já deu para perceber a ideia.
Uma característica comum a grande parte destes anjos de beira de estrada é repetirem, em média duas a três vezes, exactamente pelas mesmas palavras, as indicações que deram logo no início. “Obrigado, obrigado, já percebi...”, digo já com o carro em ligeiro andamento. E ele a caminhar ao lado, repetindo.
Perguntar indicações a um casal, não raras vezes traz ao de cima tensões conjugais. Cada um sabe melhor do que o outro qual o melhor caminho a seguir, ainda que seja o único possível. Atropelam-se, falam um por cima do outro, mandam-se calar mutuamente e, nos piores casos, sobem gradualmente o tom de voz para se fazerem ouvir melhor até se instalar uma valente gritaria estereofónica. Quando sigo caminho, o retrovisor deixa-os ainda a esbracejar no meio da estrada.
O dono de uma pick-up. Estes são os mais perigosos, tal e qual como se estivéssemos perante um tuaregue terrorista no meio do Paris-Dakar. Para esta estirpe de indicadores não existe outro tipo de carro que não seja a pick-up que conduzem. Os atalhos pedregosos, a terra batida cheia de buracos, o caminho florestal ou os leitos de riachos são para eles autênticas auto-estradas. “Não há problema, o caminho 'tá bom e assim chega lá mais rápido...”
Alguns exemplos:
Queríamos encontrar umas ruínas romanas que uma placa lá mais atrás indicava como uma atracção turística do local. Chegamos à aldeia e não encontramos nada. Perguntamos a um velhote sentado nos degraus da sua casa. “Ruínas?!”, exclama com uma incontida raiva na voz “Aqui não há ruínas nenhumas, esta aldeia não é velha, ouviu? Aqui está tudo de pé e não há cá ruínas nenhumas...” Inversão de marcha.
“O senhor vai até ali abaixo, 'controla' a rotunda para a esquerda e, depois, quando chegar ao 'stander' da Renault...”
“Agora segue por aqui, depois desce, desce, desce, desce (repetição acompanhada de uma frenética mímica com as duas mãos), vira à esquerda (para exemplificar, o homem dá meia volta para a esquerda com o corpo e fica de costas para mim), continua a descer, a descer, a descer, a descer (assume uma posição egípcia e flecte os joelhos ritmadamente como se estivesse numa aula de aeróbica), contorna uma grande árvore (com as mãos no ar desenha energicamente os largos contornos circulares do tronco), ...” Acho que já deu para perceber a ideia.
Uma característica comum a grande parte destes anjos de beira de estrada é repetirem, em média duas a três vezes, exactamente pelas mesmas palavras, as indicações que deram logo no início. “Obrigado, obrigado, já percebi...”, digo já com o carro em ligeiro andamento. E ele a caminhar ao lado, repetindo.
Perguntar indicações a um casal, não raras vezes traz ao de cima tensões conjugais. Cada um sabe melhor do que o outro qual o melhor caminho a seguir, ainda que seja o único possível. Atropelam-se, falam um por cima do outro, mandam-se calar mutuamente e, nos piores casos, sobem gradualmente o tom de voz para se fazerem ouvir melhor até se instalar uma valente gritaria estereofónica. Quando sigo caminho, o retrovisor deixa-os ainda a esbracejar no meio da estrada.
O dono de uma pick-up. Estes são os mais perigosos, tal e qual como se estivéssemos perante um tuaregue terrorista no meio do Paris-Dakar. Para esta estirpe de indicadores não existe outro tipo de carro que não seja a pick-up que conduzem. Os atalhos pedregosos, a terra batida cheia de buracos, o caminho florestal ou os leitos de riachos são para eles autênticas auto-estradas. “Não há problema, o caminho 'tá bom e assim chega lá mais rápido...”
11 maio 2005
Baco aconselha
Cunha Martins
Dão Tinto Reserva 2000
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro Preto, Bastardo e Jaen
Aspecto: Límpido
Cor: Ruby intenso com nuances acastanhadas
Aroma: Misto de frutos vermelhos bem maduros e especiarias
Sabor: Frutado, macio e equilibrado
Processo de Vinificação: Desengace total, fermentação alcoólica a 28°, maceração pelicular prolongada
Estágio: Oito meses em barricas de carvalho Nacional e dezoito meses em garrafa
Longevidade do Vinho: 7/9 anos
Características organolépticas: Vinho de cor granada, aroma e sabor complexos. Estagiou 8 meses em barricas de carvalho nacional. Tem estrutura e longevidade. Acompanha bem pratos à base de carnes vermelhas, caça e queijos
Nota do palato: É um pouco doce demais para o meu gosto, tornando-se enjoativo ao terceiro copo se a comida não tiver um sabor bastante forte para o contrapor. Mas é delicioso e tem um aroma que merece longas inspirações de olhos fechados. A garrafa é feia, a lembrar os vinhos a granel (quando é que alguns produtores vão começar a perceber que existe uma ferramenta poderosíssima chamada 'design'?) e o logótipo é de tal modo enfadonho que os menos atentos nem vão dar por ele na prateleira do supermercado. Enfim, ainda bem que o que interessa é o 'espírito' que tem dentro
Redundância social numa noite de copos
Estou demasiado fixe para ouvir as tuas merdas, mas tu às vezes até dizes merdas fixes.
06 maio 2005
Ricos e Pobres
Nestes últimos meses, pacientemente, andei a ler o fabuloso livro "A Riqueza e a Pobreza das Nações- Porque são algumas tão ricas e outras tão pobres", de David S. Landes.
Para encurtar uma longa descrição da obra à laia de contextualização, digo somente que o livro me prendeu do princípio ao fim, e que parece mais uma longa crónica escrita com estilo e ironia do que aquilo que verdadeiramente é: uma tese.
O autor, fervoroso crente nas dinâmicas do capitalismo, estimuladas, ou travadas, pela cultura de cada povo e/ou país, estabelece mais ou menos um padrão de desenvolvimento económico para várias nações. Do lado das ricas, surgem à cabeça o Reino Unido, os EUA e o Japão. Entre elas têm em comum como estímulo 'natural' ao desenvolvimento uma forte disciplina social, avidez pela tecnologia e pela novidade, e uma arreigada ética do trabalho, no caso dos anglo-saxónicos estruturada numa lógica protestante que encara o lucro como um bem divino.
Do lado dos pobres, está tudo o resto: a displicência, a desorganização, o sub-aproveitamento de recursos naturais, baixos níveis de instrução e de índices tecnológicos, fracas taxas de investimento, desorganização social, conflitos internos, enfim...
Apesar das explicações apontadas para a pobreza serem mais diversas do que para a riqueza, muitas das nações pobres analisadas por David S. Landes têm em comum o facto de serem antigas colónias de potências europeias. E o autor dedica uma considerável parte do seu texto a desmontar os argumentos daqueles que tentam actualmente explicar o atraso dos seus países com a "herança colonialista", que, em alguns casos, dizem eles, ainda se faz sentir. Nada disso, insurge-se o autor, fracos argumentos para tapar o sol com a peneira e expiar o debate das verdadeiras razões estruturais do sub-desenvolvimento que, para ele, são exclusivamente de ordem interna.
No outro dia, numa saída de copos no Bairro Alto, reencontrei uma amiga que, durante um ano, esteve a trabalhar para uma empresa multinacional em Angola. Após as novidades iniciais e o sorriso de quem viveu uma experiência marcante, o semblante começou a carregar-se-lhe. Trazia histórias arrepiantes das condições em que a dita empresa multinacional colocava os trabalhadores locais, os angolanos: salários de miséria, porque se um não trabalhar logo estará outro na fila para se submeter; condições de trabalho de uma precaridade atroz ao nível da segurança, do horário e da assistência social; até não faltou o pitoresco de refeitórios e casa-de-banho separadas para uns e outros.
É aqui que David S. Landes peca por omissão. Existe ainda, de facto, uma mentalidade empresarial neo-colonialista no ocidente, que ainda explora e abusa. Não é A razão primordial para o atraso de alguns países, mas para isso contribui um pouco. Até os próprios argumentos do autor se viram contra ele neste caso, mais que não seja porque, por exemplo no caso da indústria transformadora, ao dar melhores condições aos países estrangeiros onde investe, estará também a criar mais mercado para escoar os seus produtos.
Numa época em que, no mundo industrializado, a 'responsabilidade social' das empresas é vista como a Terceira Via da economia, estes casos parecem-me de uma hipocrisia e grosseria a toda a prova.
Para encurtar uma longa descrição da obra à laia de contextualização, digo somente que o livro me prendeu do princípio ao fim, e que parece mais uma longa crónica escrita com estilo e ironia do que aquilo que verdadeiramente é: uma tese.
O autor, fervoroso crente nas dinâmicas do capitalismo, estimuladas, ou travadas, pela cultura de cada povo e/ou país, estabelece mais ou menos um padrão de desenvolvimento económico para várias nações. Do lado das ricas, surgem à cabeça o Reino Unido, os EUA e o Japão. Entre elas têm em comum como estímulo 'natural' ao desenvolvimento uma forte disciplina social, avidez pela tecnologia e pela novidade, e uma arreigada ética do trabalho, no caso dos anglo-saxónicos estruturada numa lógica protestante que encara o lucro como um bem divino.
Do lado dos pobres, está tudo o resto: a displicência, a desorganização, o sub-aproveitamento de recursos naturais, baixos níveis de instrução e de índices tecnológicos, fracas taxas de investimento, desorganização social, conflitos internos, enfim...
Apesar das explicações apontadas para a pobreza serem mais diversas do que para a riqueza, muitas das nações pobres analisadas por David S. Landes têm em comum o facto de serem antigas colónias de potências europeias. E o autor dedica uma considerável parte do seu texto a desmontar os argumentos daqueles que tentam actualmente explicar o atraso dos seus países com a "herança colonialista", que, em alguns casos, dizem eles, ainda se faz sentir. Nada disso, insurge-se o autor, fracos argumentos para tapar o sol com a peneira e expiar o debate das verdadeiras razões estruturais do sub-desenvolvimento que, para ele, são exclusivamente de ordem interna.
No outro dia, numa saída de copos no Bairro Alto, reencontrei uma amiga que, durante um ano, esteve a trabalhar para uma empresa multinacional em Angola. Após as novidades iniciais e o sorriso de quem viveu uma experiência marcante, o semblante começou a carregar-se-lhe. Trazia histórias arrepiantes das condições em que a dita empresa multinacional colocava os trabalhadores locais, os angolanos: salários de miséria, porque se um não trabalhar logo estará outro na fila para se submeter; condições de trabalho de uma precaridade atroz ao nível da segurança, do horário e da assistência social; até não faltou o pitoresco de refeitórios e casa-de-banho separadas para uns e outros.
É aqui que David S. Landes peca por omissão. Existe ainda, de facto, uma mentalidade empresarial neo-colonialista no ocidente, que ainda explora e abusa. Não é A razão primordial para o atraso de alguns países, mas para isso contribui um pouco. Até os próprios argumentos do autor se viram contra ele neste caso, mais que não seja porque, por exemplo no caso da indústria transformadora, ao dar melhores condições aos países estrangeiros onde investe, estará também a criar mais mercado para escoar os seus produtos.
Numa época em que, no mundo industrializado, a 'responsabilidade social' das empresas é vista como a Terceira Via da economia, estes casos parecem-me de uma hipocrisia e grosseria a toda a prova.
04 maio 2005
03 maio 2005
O camaleão
Segundo as tradições dos Pigmeus do Ituri, o deus supremo uraniano Arebati tem como atributos o trovão, o relâmpago e o camaleão. Este último, demiurgo, criador dos primeiros homens, é sagrado. Quando os Pigmeus o encontram no seu caminho, retiram-no com precaução por medo do trovão e do relâmpago. Ele sobe ao topo das maiores árvores; assim ele está mais próximo de Deus... Uma vez o camaleão ouviu no tronco duma árvore um murmúrio e um ruído. Rachou a árvore e uma grande onda saiu dela e espalhou-se sobre a Terra. Era a primeira água da Terra. Juntamente com a água saiu o primeiro casal humano (...)
Para os Dogons, o camaleão, que recebeu todas as cores, está ligado ao arco-íris, caminho entre o céu e a terra.
Para os Eldas do Alto Volta, é um símbolo de fecundidade e por esta razão as suas cinzas servem para a preparação de pós mágico-medicinais.
Segundo outras tradições, o camaleão seria um dos primeiros seres vivos: ele teria aparecido quando a Terra ainda não se tinha completamente separado das Águas primordiais, e, como teria aprendido a caminhar na lama, adquirira esta maneira de caminhar lenta e aparentemente preguiçosa que esteve na origem do aparecimento da Morte. Com efeito, o camaleão fora encarregado por Uculunculum (demiurgo e primeiro homem) de ir dizer que os homens não morrem. Mas ele demorou-se e, zangado, Unculunculum enviou o lagarto com a palavra morte e este chegou primeiro. A morte é, por isso, o efeito da preguiça e da leviendade do camaleão.
Mesmo em África, vemos, assim, o significado simbólico do camaleão passar da ordem cósmica à ordem ética e psicológica, o que indicaria um deslocamento dos centros de interesse e de observação. Do demiurgo que falha na sua obra, ao deixar que o homem se torne mortal, ao animal cujos traços físicos e hábitos servem de imagens para as lições do iniciador, encontra-se no camaleão uma impressionante bipolaridade, diurna e nocturna, que reúne os poderes e os fracassos.
in "Dicionário dos Símbolos"
Para os Dogons, o camaleão, que recebeu todas as cores, está ligado ao arco-íris, caminho entre o céu e a terra.
Para os Eldas do Alto Volta, é um símbolo de fecundidade e por esta razão as suas cinzas servem para a preparação de pós mágico-medicinais.
Segundo outras tradições, o camaleão seria um dos primeiros seres vivos: ele teria aparecido quando a Terra ainda não se tinha completamente separado das Águas primordiais, e, como teria aprendido a caminhar na lama, adquirira esta maneira de caminhar lenta e aparentemente preguiçosa que esteve na origem do aparecimento da Morte. Com efeito, o camaleão fora encarregado por Uculunculum (demiurgo e primeiro homem) de ir dizer que os homens não morrem. Mas ele demorou-se e, zangado, Unculunculum enviou o lagarto com a palavra morte e este chegou primeiro. A morte é, por isso, o efeito da preguiça e da leviendade do camaleão.
Mesmo em África, vemos, assim, o significado simbólico do camaleão passar da ordem cósmica à ordem ética e psicológica, o que indicaria um deslocamento dos centros de interesse e de observação. Do demiurgo que falha na sua obra, ao deixar que o homem se torne mortal, ao animal cujos traços físicos e hábitos servem de imagens para as lições do iniciador, encontra-se no camaleão uma impressionante bipolaridade, diurna e nocturna, que reúne os poderes e os fracassos.
in "Dicionário dos Símbolos"