16 agosto 2005

terra queimada


António Ferreira do Amaral, presidente da Autoridade Nacional para os Incêndios Florestais, considera, no entanto, que os meios no terreno são suficientes, mas "nem sempre é possível apagar os incêndios com a rapidez necessária". Mas reconhece que a prevenção não foi a que devia ter sido. O cenário só será diferente quando "o poder autárquico se interessar, estiver sensibilizado e trabalhar para resolver esta questão".
in Diário de Notícias, 05 Agosto de 2005

É preciso ser de uma infinita amoralidade para dizer o que este grunho disse. Sacudir as brasas do cabelo para cima de terceiros, culpando o mais próximo para disfarçar a confrangedora inutilidade do cargo e da instituição que ocupa, é de uma hipocrisia atroz. Tão criminosos como quem ateia os fogos são também aqueles que tiveram a responsabilidade de evitar que o inferno de 2003 se repetisse e nada fizeram. Sentaram-se nas suas cadeiras almofadadas, em escritórios com ar condicionado e com cargos pomposos escritos na porta, brincaram aos mapas dando cores aos distritos, lançaram uma tímida campanha de publicidade e... nada mais.
"Os meios no terreno são suficientes"?!!? Vai para lá tu, ó palhaço, vai segurar numa mangueira de quintal enquanto uma frente de labaredas avança sobre a tua casa para ver se os meios são suficientes. Devias lá estar a ser lambido pelo fogo, a inalar o fumo e a veres tudo o que te sustenta reduzir-se a cinzas para sentires o que este país sofre com os incêndios. O QUE É ISTO? COMO SE PERMITE QUE ISTO ACONTEÇA ANO APÓS ANO? COMO É POSSÍVEL? COMO É QUE SE PERMITE QUE ESTE DESESPERO NOS CONSUMA?
E depois vêm-nos falar que uma das grandes opções estratégicas para Portugal é o turismo. Para ver o quê? Para usufruir do quê, de que paisagens, de que património natural. TGV? OTA? Puta que vos pariu, que eu não pago impostos para isso! Apelo à desobediência civil e ao incumprimento fiscal enquanto não nos apresentarem uma solução para a floresta, enquanto a vontade de preservar o território não for traduzida em medidas concretas. Quero a Floresta no Orçamento de Estado, JÁ! Recuso-me a viver e a contribuir para um deserto de terra queimada.